Entenda neste post o que é bloqueio criativo, suas principais causas, e como superá-lo.
Como sou escritora e desenhista, estes serão meus focos aqui (principalmente a escrita). Porém as dicas valem para qualquer trabalho que exija criatividade para ser executado.
O que é o bloqueio criativo?
Bloqueio criativo é quando não sabemos como seguir em frente em nossa arte (ou em qualquer empreendimento que exija criatividade), como se houvesse um obstáculo em nosso cérebro impedindo as ideias de surgirem.
Sentamos na frente de uma folha em branco e olhamos para ela com desespero crescente no peito, levando-nos a acreditar que não vamos conseguir fazer mais nada.

Este fantasma em algum momento acaba (quase) sempre atacando escritores, desenhistas, escultores, e todos os tipos de artistas.
Mas é possível sair deste bloqueio e voltar a criar.
Quais as causas do bloqueio criativo?
As causas do bloqueio criativo podem variar muito, mas antes de citar as principais é preciso advertir algo: preste atenção em sua saúde. Algumas vezes o bloqueio criativo é apenas um dos sintomas de algo fisiológico. Desde um cansaço por excesso de trabalho, estresse do dia a dia, e até casos mais densos como a depressão.
Por isso, atente-se em seu corpo e tenha a certeza de que a causa do bloqueio criativo não está em uma saúde negligenciada. Se for algo do tipo, cuide de si antes de se preocupar com outras coisas (tendo alguns dias de descanso ou até mesmo procurando um profissional da saúde referente a seu problema).
Muito bem. Descartando essa possibilidade, as principais causas do bloqueio criativo podem ser as seguintes:
Excesso de Pensamentos
As pessoas costumam achar que o bloqueio acontece por falta de ideias, mas isso nem sempre é verdade. Inclusive, os bloqueios mais sofridos são aqueles em que sabemos o que queremos fazer, e mesmo assim continuamos travados.
Quando nossa cabeça está muito cheia, podemos nem perceber que nosso cérebro está travando um dilema. Esse processo de pensamentos – o dilema – acontece tão rápido que sequer notamos. A única coisa que percebemos é o efeito de paralisia perante tantas possibilidades.

Dica para resolver o bloqueio criativo por excesso de pensamentos: Simplifique. Se a cena (ou o desenho) é longa e complexa, escreva uma só frase resumindo tudo para enxergar o panorama completo. No caso do desenho, faça um rabisco geral de onde estarão as principais partes da ilustração. Em outras palavras, olhe de longe para ver o quadro todo.
Uma outra coisa: não sinta pena ao descartar ideias que parecem boas. Não tente incluir tudo num trabalho só, pois excesso de elementos deixa tudo confuso e sem foco. É verdade que o coração sangra ao deixarmos para lá algo que julgávamos muito legal, mas o que torna um trabalho bom, seja um livro ou uma ilustração, não é a quantidade de elementos presentes, mas sim a paixão com que você trabalha um único elemento.
Então volto a recomendar: simplifique. O excesso de ideias pode realmente ser uma das coisas que está lhe causando bloqueio de criatividade.
Quem enxerga muitos caminhos à frente poderá travar no meio da estrada e não escolher nenhum.
Lyan K. Levian
Sim, acabei de inventar uma frase só para ficar bonitinho na forma de citação, hehehe…
Uma outra dica para esvaziar um pouco a mente é sair para fazer outra coisa durante meia hora. Mas precisa ser algo que não encha sua cabeça com outras coisas (não pode ter rede social envolvida, nem vídeos de YouTube e TikTok). De preferência, faça quinze minutos de meditação, uma caminhada, ou aproveite para organizar aquele canto da casa que você tem negligenciado. Falei rapidamente sobre isso neste post, e para mim funcionou.
Mas cuidado para essa pausa de meia hora não se estender além do previsto. Após passar este tempo, volte ao trabalho e respire fundo para focar.
Se o seu problema for o contrário de cabeça cheia, ou seja, se você estiver sem ideias, recomendo a leitura de um artigo que escrevi como convidada em um site: 15 dicas de como ter ideias para sua história.
Comparações
Uma outra causa dos bloqueios criativos são as terríveis comparações que acabamos fazendo mesmo sem querer, e mesmo sabendo que isso é prejudicial.
É natural olhar o trabalho de fulana ou de ciclano e pensar: “Nossa, estou muito longe de fazer algo neste nível“. Ao criar comparações a frustração se instala em nosso interior, pois achamos que nunca chegaremos naquele lugar.

O que não levamos em consideração é que a pessoa com a qual nos comparamos teve também um caminho árduo para chegar onde chegou. Ao nos compararmos e nos frustrarmos, é o mesmo que afirmar: quero ser tão bom quanto essa pessoa, mas sem ter todo o trabalho que ela teve.
Complicado, não?
Geralmente a dica que as pessoas sempre dão é a de se comparar apenas com você mesmo, com seu eu de ontem. Eu até concordo, mas isso nem sempre é bom. Principalmente quando estamos criando algo novo e ficamos travados.
Sabe por que isso é um problema? É porque ao comparar seu trabalho anterior com o que está fazendo agora poderá bater a síndrome do impostor (explicada no vídeo abaixo), dando o mesmo efeito de se comparar com os outros.
Ao olharmos nossos trabalhos anteriores que firam bons criamos uma auto cobrança de fazer algo no mesmo nível, ou até melhor. E isso é uma mordaça para a criatividade.
Dica para resolver o bloqueio criativo por comparações: pare de se importar com o que os outros fizeram, ou fazem. Pare também de se importar se o seu trabalho anterior estava incrível. Ele só está maravilhoso porque você criou sem se comparar, e se divertiu no processo.
Perfeccionismo
O problema acima, de comparação, acaba gerando exatamente este, de auto cobrança e perfeccionismo. E o perfeccionismo nada mais é do que uma arrogância velada, pois você acha que sua habilidade precisa ser tão incrível a ponto de ser melhor do que tudo o que já viu.
Ao se convencer que seu trabalho precisa estar impecável, de que não pode errar, você já prendeu sua criatividade pelo pescoço e a enfiou no canto mais escuro e empoeirado da casa.
A criatividade só trabalha com liberdade. A criatividade gosta de brincar com as possibilidades, tal qual criança que faz as coisas sem se preocupar se está fazendo certo.

“Ah, mas… Eu tenho que fazer um capítulo bom para meu livro, senão todos vão odiar”
É verdade. Mas quando você senta diante da tela em branco para escrever ou desenhar não é para escrever a versão final do livro. Você já parou para pensar nisso? Já pensou o quão absurdo é pensar que a primeira versão do trabalho é a versão final?
Você acha que os livros incríveis que lê não passou por revisões? Pois eu lhe afirmo: escritores profissionais fazem, pelo menos, quatro revisões de seus livros. Se você sentar na frente do computador para escrever achando que o texto precisa estar incrível logo de cara, você está vivendo a mais absurda das ilusões.
Quando sentamos para escrever, às vezes esquecemos que o rascunho é o raio de um rascunho! Escrevemos uma frase, e apagamos porque está “ruim”. Ou fazemos um traço e já passamos a borracha sem nem ter feito o esboço.
Se você acha que ser perfeccionista é bom, comece a repensar seu conceito. O perfeccionismo é sintoma da arrogância, e assassina a criatividade. Se nosso ego inflar a ponto de sequer permitir que façamos algo “mal feito”, não vamos conseguir fazer mais nada na vida, pois nenhum trabalho sai bom de primeira.
Dica para resolver o bloqueio criativo por perfeccionismo: sente-se na mesa de trabalho e diga a si mesmo: vou escrever/desenhar o maior lixo de todos.
A primeira vez que me falaram isso fiquei revoltada. Ora, eu não queria criar lixos, mas sim fazer algo incrível!
Mas por querer tanto fazer algo incrível, eu não fazia nada.

Na primeira vez que deixei meu orgulho de lado (pois somos seres muito arrogantes, mesmo que não saibamos) e decidi escrever um capítulo “lixo” de meu livro, a coisa fluiu. E fluiu muito bem, pois eu estava decidida a não me importar com estética. Como me desafiei a escrever “um lixo de capítulo”, eu não estava me importando se estava sequer aceitável.
Meu resultado: ao final de algumas horas eu tinha um material para lapidar. Revisei, retirei o que de fato estava muito ruim, modifiquei as partes boas, e saí do limbo do bloqueio criativo. Depois de umas três revisões, o texto ficou bem legal (e se você quer ser escritor sem precisar de revisão, pense duas vezes).
Lembre-se: o momento de fazer o rascunho é para liberarmos “lixo” no papel mesmo. Colocar tudo ali, sem medo. Não tem ninguém além de você que vai ler aquele amontoado de incoerências, então apenas tire o raio da história da pedra!
Sabe quando mineradores retiram gemas da rocha, e elas ainda não estão lapidadas? Então. Já pensou se o minerador ficasse frustrado porque a gema não veio na forma de um diamante pronto para fazer o anel? Bem, com seu trabalho é a mesma coisa.

Sente na cadeira e pare de pensar na forma lapidada. Pare de pensar se está bom ou não, pois isso é para ser feito só depois, quando for revisar. A hora de escrever não é para revisão nem lapidação. Apenas se force a colocar o próximo parágrafo no papel, permitindo-se errar à vontade.
Que se dane se está ruim.
Medo do Julgamento
Ao escrevermos um texto ou fazermos um desenho, precisamos libertar o que há de mais íntimo em nós. O texto ou o desenho cru é cheio de erros, e não gostamos que vejam esse nosso lado. O perfeccionismo que citei acima também é um dos sintomas do medo de ser julgado, e este é outro assassino de criatividade. Uma das maiores causas do bloqueio criativo.
Não importa o quanto eu escreva sobre se valorizar, não há palavras mágicas para resolver o problema da auto estima de uma vez. Ela pode ser melhorada sim, mas geralmente através de um trabalho terapêutico, ou até com a leitura de bons livros de evolução pessoal.
Então, o que posso fazer aqui é lembrar-lhe que o que você está escrevendo não vai ser lido.
Lembre-se: a fase de rascunho será conhecida apenas por você. Todos os seus erros, as frases mal escritas… Somente você as verá. Depois que você passar por uma revisão (podendo até pedir ajuda de alguém de confiança ou pagar um profissional) é que seu texto será visto pelo público.
Outra possibilidade é de você já ter feito alguma publicação antes, e ter recebido comentários negativos. Isso de fato abala nosso processo criativo.
Este caso é mais complicado, mas a solução envolve termos a capacidade de saber diferenciar o puro hate (pessoas tóxicas que só vomitam desprezo gratuito), das críticas construtivas. No caso de a crítica recebida de fato comportar destaques relevantes de pontos a serem melhorados, só nos resta ter a humildade de agradecermos por nos mostrarem algo que não vimos, e estudar para evoluir.
Uma coisa é certa: nosso trabalho nunca estará perfeito. Nunca. Mesmo que você faça 10 revisões, dê seu texto para 30 profissionais analisarem… Nunca vai estar perfeito. Então pare de esperar por isso. Eu costumo brincar dizendo que nem Jesus, que é o Cristo, agradou a todos. Quem sou eu para querer a aprovação mundial?
Pois é, sou menos que uma poeira cósmica, mas isso não diminui minha paixão por escrever.
Quando publicamos algo, estamos de fato colocando nossa cara a tapa. Meu primeiro livro publicado, Anjo Negro, recebeu desde comentários fofos até críticas sobre como ele é curto, e como o relacionamento do casal se desenvolve absurdamente rápido. Eu fiquei um pouco chateada na época, mas vi que essas observações tinham um fundo de verdade.
Em vez de me fechar e me enfiar no bueiro mais próximo, levantei a cabeça e continuei escrevendo, pois havia pessoas que tinham gostado do meu trabalho. Incluindo eu mesma (e isso é importante: você é a primeira pessoa que precisa gostar, pois sem isso sua escrita perde boa parte do propósito).
Voltando à questão… Quando publicamos um livro (ou um capítulo, que seja), ou mostramos nosso desenho ao mundo, estamos naturalmente sujeitos a opiniões. Quando usei o termo “dar a cara a tapa” eu estava falando sério. Você realmente enfia sua cara no mundo, e tem a possibilidade de vir bofetões de todos os lados.

Precisamos lembrar que a Internet é “terra de ninguém”, onde pessoas cruéis ofendem gratuitamente apenas pelo prazer de ver a tristeza alheia. Então, ao publicar nosso trabalho, o único jeito de nossa alma não derreter num mar de desânimo é nos blindarmos contra esse tipo de gente.
E se blindar não é se armar de “respostas lacradoras” para replicar quando falarem algo. As pessoas tóxicas estão ávidas por sua resposta-lacre, e não é seu texto “inteligente” e cheio de ensinamentos morais que vão mudar a opinião desse povo estúpido.
Por isso, a melhor resposta é: não responder. Finge que não viu, passa reto, e importe-se em continuar a fazer o que gosta.
Certa vez o Felipe Neto estava conversando com Pabllo Vittar sobre esse público hater, e ela perguntou: “Você responde a todos os comentários carinhosos que recebe?“, e a resposta de Felipe foi que não, pois é humanamente impossível responder a todos (ele recebe milhares de comentários em cada vídeo, para quem não sabe).
Então Pabllo finaliza, falando como lida com isso: “Se eu não respondo as mensagens de amor, por que vou perder meu tempo respondendo as mensagens de hate?“.
A sequência é ótima e vale a pena assistir o trecho. Trata-se do vídeo abaixo (o diálogo citado começa em 6:20).
Dica para resolver o bloqueio criativo por medo do julgamento: como disse Pabllo Vittar, foque-se naqueles que gostam do que você faz. Se cerque de seus amigos e das pessoas que admiram o que você faz.
E principalmente, foque seus pensamentos em continuar fazendo seu trabalho. Lembre-se de seu propósito original, da paixão do que faz, e não nos comentários que recebe.
Pergunta para você refletir: você escreve/desenha porque ama fazer isso, ou porque deseja receber elogios?
É natural querermos ter nosso trabalho apreciado. Eu entendo e também sou assim. Mas ter isso como foco vai levar tanto sua criatividade quanto seu ímpeto inicial a fixar residência no calabouço da frustração.
A segunda parte de minha dica para resolver o bloqueio criativo causado pelo medo do julgamento é: escreva sem pensar em publicação.
Simplesmente escreva. Não com o objetivo de publicar, mas sim para tirar a história do gelo. Arrancar aquela semente de sua cabeça e colocar para fora.
Se vai ou não publicar depois, são outros quinhentos. A hora de escrever não é hora de pensar em publicação. Por isso, enquanto escreve, pare de pensar assim: “Ain, será que eles vão gostar?“
Afinal, eles sequer vão ler isso que você está escrevendo, já que é apenas “lixo”, lembra? Pois é.
Falta de Planejamento
Um outro problema (clássico e frequente) que causa bloqueio criativo na escrita é você não ter a menor ideia de para onde vai sua história.
- Quem é a(o) protagonista?
- Qual o objetivo dela(e)?
- Qual a principal falha no caráter dela(e)?
- O que aconteceu no passado para levá-la a ser assim hoje?
- A protagonista vai se corrigir ao final da história? Ou vai piorar?
- Quem são os outros personagens importantes dessa história além da(o) protagonista?
- Quais as características físicas e psicológicas deles?
- Qual o objetivos de cada um deles?
- Quem é a(o) antagonista, e o que ela(e) mais deseja?
- Como a trama principal dessa história vai se resolver?
- Haverá subtramas? Se sim, como elas se relacionam com a trama principal?
- Como é a relação do protagonista com os outros personagens?
- Como é a relação do protagonista com o antagonista?
- Você fez as pesquisas necessárias para sua história? Entende bastante sobre o tema?
Se você não souber responder a essas perguntas básicas (sim, são básicas!), as chances de ter um delicioso bloqueio criativo no meio do estômago são enormes. E ele não vem fraco, não. Pega pelo umbigo, torce três vezes e te joga na parede (e sem te chamar de lagartixa, o que é mais triste).
Escrever sem um planejamento prévio é algo que muitos escritores fazem (inclusive esta flor pura que vos escreve já fez – erro para nunca mais), porém são poucos os que realmente conseguem chegar ao final da narrativa não planejada sem mergulhar num lamaçal de frustrações.
Começar a escrever sem conhecer sua própria história como a palma de sua mão é muito arriscado. Não estou dizendo que é impossível, mas não saber que caminho trilhar pode levar você a escrever algo sem pé nem cabeça, ou… Ter um bloqueio criativo.
Você se lembra do Gato de Cheshire, de Alice no País das Maravilhas, que fica sempre sorridente num galho de árvore enquanto observa o circo pegar fogo?

Pois ele tem um diálogo com a protagonista que vale ser lembrado:
Alice perguntou:
– Gato Cheshire… Pode me dizer qual caminho devo tomar?
– Isso depende muito do lugar para onde quer ir – respondeu o gato.
– Eu não sei para onde ir! – disse Alice.
– Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve…
Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll
Mas a verdade é que escritores geralmente estão, sim, preocupados com os caminhos que suas histórias vão seguir. Se você não tivesse essa preocupação, não estaria com bloqueio criativo, não é?
Dica para resolver o bloqueio criativo por falta de planejamento: primeiramente, tenha uma resposta bem clara para cada uma das perguntas que fiz na lista mais acima. Escritores iniciantes podem pensar que é um exagero, mas a verdade é que saber daquilo é o mínimo que você faz antes de rascunhar o primeiro parágrafo.
Após ter a resposta para aquelas perguntas na ponta da língua, faça o exercício de resumir o núcleo de sua história em uma frase. Neste trecho deve constar a maior dor/objetivo do personagem, e como ele buscará resolução.
Exemplo:
Lucio, um adolescente que reprime a própria homossexualidade, vira alvo de um bad boy que mexe com suas emoções, levando-o a fazer coisas que nunca imaginou ser capaz.
Premissa de Anjo Negro – Lyan K. Levian
Percebe como coloquei apenas o principal aqui? Essa frase chama-se “premissa“, e ajuda o autor a não se esquecer da linha principal que deu força à narrativa. No caso desse exemplo, é o receio que Lucio tem por sentir-se atraído por homens, e o confronto com um rapaz atraente que não tem papas na língua. Kenan era tão sincero que Lucio chegava a pensar que o rapaz estava zombando da homossexualidade dele.
Um outro passo importante é resumir os pontos principais da história. Se seu livro for longo, resuma em até quatro páginas. Se for um conto, faça um resumo de uma única página. E não é para colocar diálogos nem suspense aqui. É um resumão mesmo, cru e frio, que apenas o escritor vai ler.
Este será uma espécie de mapa do terreno, pois você precisa entender o início, meio e fim do que está escrevendo. Saber dessas coisas sobre sua história ajudará você a não ter um bloqueio criativo por não conhecer o terreno onde está pisando.
E isso envolve também fazer pesquisas sobre o tema que está trabalhando, e sobre as coisas importantes que entrarão em sua narrativa.
Exemplo:
Uma médica recém formada encontra vestígios de uma nave espacial depois de fugir de uma gangue de traficantes.
Livro inexistente. Acabei de inventar essa doideira
No exemplo de premissa acima, a pessoa que for escrever essa história precisaria ter feito algumas pesquisas sobre como é a rotina de médicos recém formados, como eles trabalham (ou como surtam sem emprego, depende o foco de sua história). Precisaria também saber um pouco sobre ufologia, e também sobre o sistema de tráfico (de drogas? de pessoas?) do lugar onde a história ocorre.

Não se impressione quando digo que escritores precisam mesmo entender do que estão falando.
Se seu protagonista for desarmar uma bomba, você precisa ter uma ideia de como ela funciona. Se a história acontecer em outro país, entenda o mínimo sobre a história, clima e cultura do lugar. Se o local for fictício (como Hogwarts ou a Terra Média), você precisa tratar este mundo novo como um “personagem oculto” e pensar em tudo: como é a economia de lá? É governado por um rei ou por um presidente? É uma liderança aprovada pelo povo? Como é a relação entre ricos e pobres? E a religião, como funciona neste lugar?
Enfim… Isso é só um exemplo de que até para mundos inexistentes precisamos fazer uma pesquisa que, neste caso, seria inventarmos detalhes para que o universo fictício seja crível. O escritor precisa realmente entender a respeito do que está escrevendo (e não caia no erro de querer incluir na história tudo o que aprendeu na pesquisa… Esse assunto renderia todo um outro post, mas já vale o aviso).
Se o seu problema ainda não for nenhuma das cinco causas acima, está na hora de refletir sobre o seguinte:
Bloqueio Criativo ou Procrastinação?
Apenas para alinharmos nossa compreensão: procrastinar é o ato de adiar ou deixar alguma coisa para depois. Não fazer o que se programou para fazer no tempo estipulado.
Então vamos a um fato que pode fazer muita gente torcer o nariz: muitas vezes você pode estar se enganando ao dizer que está com bloqueio criativo, mas no fim é apenas uma desculpa para procrastinar.
A procrastinação muitas vezes tem a ver com preguiça, mas às vezes é um dos sintomas da ansiedade também (e nem vou entrar no mérito de TDAH, que também pode ser uma das causas).
O fato é que você precisa ser sincero consigo mesmo e saber reconhecer quando o problema é, na verdade, procrastinação. Afinal, muita gente (muita gente meeeesmo) confunde procrastinação com bloqueio criativo. E aí coloca a desculpa nesse bloqueio para não fazer o que precisa ser feito.
É muito fácil dar a desculpa de não ter escrito um capítulo naquele dia porque estava bloqueado. Dizer que estava com preguiça, ou que está procrastinando (vendo memes na Internet, ou se perdendo nos TikToks da vida) é inaceitável, então para que o ego se defenda, arranja a desculpa de “bloqueio criativo”.
Algumas pessoas sentam diante da folha em branco e, antes de darem meia hora de chance com tentativas focadas, já escorregam a mão para o celular apenas para dar uma checada. Mal percebe que lá se vão 10 minutos, meia hora de dispersão.
Você se identifica com este caso?

Se isso estiver acontecendo com você, estou aqui para informar que seu problema não é bloqueio criativo, e sim procrastinação. Falta de disciplina.
Sinto muito ser eu a jogar esse balde de água fria.
Dica para resolver a procrastinação (que nem sempre é bloqueio criativo): Ao deixar o celular e o notebook em modo avião, se forçando a focar no que deve ser feito, pode ser que você descubra que tudo não passava de falta de foco.
Algumas vezes, o difícil é apenas começar. Tem gente que diz que está com bloqueio criativo, mas sequer sentou o bumbum bonitinho na cadeira para tentar.
Você tentou hoje? Tentou mesmo?
Humm, tô de olho, hein!
E não falo de sentar na cadeira por cinco minutos e desistir dizendo: “Ah, não consigo, tô com bloqueio“. Esse drama é mais raso que meu pires. Estou falando de tentar de verdade, desligando o celular, tirando as distrações do lado e focando pra valer no trabalho durante uns trinta minutos. No mínimo.
Se durante sua tentativa você deu uma checada no celular, não valeu. Se pegou a revista ou o objeto que estava ao lado para dar uma olhadinha, também não valeu. Se abriu o mangá da estante para lembrar como era aquela cena legal, adivinha: não valeu a tentativa. Foram apenas procrastinações, falta de foco e dispersão. E isso não é bloqueio criativo.
Deixar a mente vagar, pensando na morte da bezerra enquanto olha para a folha em branco, também não vale. Tem que focar a mente e tentar escrever qualquer coisa (mesmo que seja o “lixo” que ensinei mais acima).
A ansiedade que as checagens e redes sociais causam é um veneno para nossa criatividade. Não pense que ficar assistindo vídeo de dicas de como escrever melhor lhe trará produtividade. Ver dicas de como fazer o que você deveria estar fazendo é apenas um anestésico para a dor da culpa de não estar trabalhando.
Olha aí, que frase interessante! Escreve num papel e pendura ao lado de seu computador:
Ver dicas de como fazer o que você deveria estar fazendo é apenas um anestésico para a dor da culpa de não estar trabalhando.
Lyan Chata da Silva Sauro K. Levian
No fim, sua consciência sabe que está procrastinando, e que deveria na verdade estar trabalhando.
Bom… Este sendo ou não seu caso, creio que as dicas abaixo poderão ser úteis.
Dicas Extra de Como Acabar com Bloqueio Criativo
Dica do Sprint sem Edição
Esta é uma técnica que aprendi há alguns anos com um grupo de colegas escritores. A palavra “sprint” significa, em inglês, uma corrida rápida em curta distância.
No caso do Sprint na escrita, trata-se de uma brincadeira (que conheci na NaNoWriMo 2012) para vencer a dificuldade de escrever. É basicamente uma disputa de quem escreveu mais em determinado período de tempo.
Isso pode ser feito com pessoas no mundo todo, já que não precisamos estar no mesmo lugar. Apenas a conversa via chat ou via Discord basta.
- Use um editor de texto que faça contagem de palavras (quase todos);
- Marque um cronômetro para 20 minutos (pode ser no celular, ou cronômetro mecânico);
- Escreva como louco para conseguir o maior número de palavras possível (sem ficar voltando para editar, pois a intenção é ter muitas palavras, mesmo que esteja com erros gramaticais);
- Compare seu progresso com a pessoa que disputou com você. Se estiver sozinho (como eu, que não faço mais disputas), compare com seu progresso no Sprint anterior;
- Respire fundo e comece outra rodada de Sprint (recomendo 4, mas pode fazer quantas aguentar).
Posso diminuir o tempo do Sprint para 15 minutos?
Pode! A ideia aqui é determinar um tempo para disparar na escrita que nem um louco, como se não houvesse amanhã. Só não vale colocar tempos curtos demais, ou exageradamente longos. Considere sempre algo entre 5 e 25 minutos para cada Sprint.
Sua marcação poderá variar muito de um Sprint para outro, então cuidado para não pensar que o resultado é medida de capacidade, porque não tem nada a ver. Já tive Sprints de 20 minutos em que consegui 750 palavras, enquanto que em outras vezes mal chegava a 200 no mesmo tempo. Essa oscilação é normal, pois nosso estado de espírito influencia.
E mesmo quando conseguir apenas 200 palavras, considere como uma vitória. Afinal, antes ter 200 palavras do que ficar encarando o cursor piscante na tela em branco.
Dica do Pomodoro
Este é muito parecido com os Sprints, mas trata-se de uma técnica de foco total, e não de velocidade. O pomodoro é uma técnica inventada nos anos 80 por Francesco Cirillo para ajudar no desempenho do trabalho. Consiste em ciclos de tempo que funcionam assim:
- Defina exatamente o que precisa fazer (para não travar no meio do trabalho);
- Coloque um cronômetro para 25 minutos;
- Durante este tempo, foque totalmente no que está fazendo, não olhando para os lados nem se distraindo com pensamentos;
- Quando acabar este tempo, marque 5 minutos de descanso, finalizando um ciclo de meia hora;
- Repita o mesmo ciclo num total de 4 vezes (totalizando 2 horas);
- Ao final de 4 ciclos, descanse por 30 minutos;
- Repita tudo novamente (outro ciclo de 2 horas mais meia hora de descanso).
Posso diminuir o tempo do Pomodoro?
Até pode, mas é melhor evitar. Diferente do Sprint (em que o objetivo é velocidade), a técnica pomodoro precisa desses 25 minutos para que o foco total possa ser estabelecido.
Esta técnica pode ser usada para praticamente tudo, inclusive os cuidados da casa ou estudos. A técnica pomodoro de foco total nos ajuda a ter disciplina.
Existem, inclusive, aplicativos muito legais de Pomodoro, tanto para iPhone quanto para Android. Basta buscar por eles e instalar para testá-los.
Dica do Horário Certo
Todas as pessoas têm um momento do dia em que a mente trabalha de forma mais ativa, como um machado afiado. Você precisa descobrir qual é este horário para você.
Geralmente é quando você está com mais vontade de escrever ou desenhar. Para algumas pessoas este horário são as primeiras horas da manhã (é meu caso, que acordo antes das 6h para ter bom rendimento). Para outras pessoas, é à noite, ou no entardecer.
Enfim, não existe um horário certo. Existe o seu horário certo para ser produtivo.
Pode ser que você tenha que fazer alguns testes até descobrir sua hora de ouro, mas você irá encontrar. E quando isso acontecer, faça questão de não ter interrupções enquanto trabalha. Explique às pessoas da casa que você está trabalhando, e foque totalmente. Use as dicas que dei ao longo do post, pois certamente ajudará.
SUPER DICA FINAL que eu gostaria de ter ouvido quando tinha 20 anos:
O ponto forte de seu livro não é a complexidade da trama, mas sim a profundidade de seus personagens.
Lyan K. Levian
Por isso, se você quer descobrir o segredo para a criação de personagens incríveis, recomendo que veja este link.
KISSES ~ KISSES
